segunda-feira, 26 de novembro de 2007

Algumas informações necessárias...

Neste blog vai ser usado algum vocabulário que de certo já terá ouvido falar, mas que poderá não saber o significado histórico ou literal. Por essa razão estão incluidos alguns vídeos informativos e hiperligações que poderá consultar para o esclarecimento de algumas dúvidas relacionadas com estes aspectos.



Para um melhor conhecimento...




Ricardo Reis é um dos heterónimos do poeta português Fernando Pessoa. Representa o poeta clássico tanto na escrita, como na sua filosofia regente, sendo considerado uma “dissimulação” do ortónimo.
Reis é médico de profissão. Educado num colégio de jesuítas, adquiriu uma instrução clássica latinista, mas com uma vertente semi-helenista (grega) muito própria. É um neopagão, acreditando em deuses antigos e segue uma ética entre o epicurismo e o estoicismo. Todos estes factores se reflectiram na sua arte poética: nas suas Odes, disciplinadamente regulares tanto estroficamente como metricamente e com vocabulário rebuscado de origens greco-latinas e na escolha de temas elevados e de carácter clássico. Defende o carpe diem, usando a apathia e a atharaxia, inerentes as filosofias acima referidas, como forma de estar social e pessoal que lhe fornecem uma felicidade ilusória. Emigrou para o Brasil devido à sua condição monárquica, tendo voltado (hipoteticamente) a Portugal aquando da morte de Fernando Pessoa (esta última informação é fictícia. Foi retirada do livro de José Saramago "O ano da morte de Ricardo Reis").

Características Temáticas



*Epicurismo:
- Busca da felicidade;
- Moderação nos prazeres;
- Fuga à dor;
- Carpe diem (colher o dia), aproveitar o momento;
- Apologia da atharaxia (tranquilidade capaz de não ceder ás perturbações);
- Calma, ou pelo menos ilusão da mesma.

*Estoicismo:
- Viver em conformidade com as leis do destino;
- Aceitação da efemeridade da vida;
- Indiferença face ás perturbações (dor e paixão = emoções fortes), apathia;
- Abdicação da luta a fim de não correr riscos;
- Auto-Disciplina;

*Horacianismo:
- Carpe diem (colhe o dia) aproveita o momento;
-Area mediocritas (felicidade possível vivendo no campo = pobre materialmente, mas muito rica espiritualmente);
- Culto do belo, a fim de superar a efemeridade da vida;
- Racionalização das sensações e emoções;
- Medo da morte (“viver moderadamente para que a hora da morte não seja demasiado dolorosa”);

*Paganismo:
- Crenças em vários deuses;
- Deuses como um ideal humano, também submetidos ao fado (destino);


*Neoclassicismo:
- Uso frequente das Odes;
- Preferência por vocabulário erudito, com sabor latinizante.

*Outras características:
- Tom moralista, pretende que os outros adoptem a sua filosofia;
- Irreversibilidade da morte e fluir inexorável da vida (Heraclito);
- Ânsia da perfeição;
- Características modernas: angústia e tristeza;
- Visão intelectual das coisas.

Características Estilísticas

- Isomorfismo: estrofes regulares (gosto pela quadra e redondilha menor);
- Isometricidade (estrofes de versos decassilábicos rematadas frequentemente por hexassílabos);
- Rima branca e recurso frequente à rima interna;
- Predomínio da subordinação;
- Uso do hipérbato, apóstrofe e aliteração;
- Apresentação de metáforas, eufemismos, comparações, imagens;
- Uso frequente do gerúndio e do imperativo;
- Vocabulário clássico, latinizante: alusão ás entidades mitológicas clássicas, palavreado erudito.

sábado, 24 de novembro de 2007

As minhas Preferências por Daniela Bento





Na minha sinceridade digo que realmente nunca fui muito apreciadora de poesia. Talvez porque nunca tivera curiosidade em lê-la, talvez por pura preguiça, pois a poesia não é um texto fácil, a verdade é que desconhecia a maior parte dos poetas e das suas obras. Um dos meus ilustres desconhecidos era Fernando Pessoa e os seus heterónimos. Agora que pude sair da ignorância posso finalmente opinar sobre as minhas preferências, agora relativamente a Ricardo Reis.
De todas as Odes de Reis por mim analisadas, as que mais gostei foram “A palidez do dia é levemente dourada”, a mais conhecida “Vem sentar-te comigo Lídia” e ”Ouvi contar que outrora”. De entre estes três, o que mais me impressionou foi o último.
O poema “Ouvi contar que outrora” apresenta uma estrutura tripartida, com uma narração alegórica, uma reflexão e uma conclusão de tom moralista. Assemelha-se quase a um texto narrativo, pois apresenta personagens e há uma acção que se desenrola no tempo e no espaço: dois jogadores de xadrez fazem uma partida, enquanto a guerra se dá em volta deles.
As características ricardinas predominantes e, no poema, levadas ao extremo são a apathia e atharaxia (indiferença face aos gritos de dor e medo e ao que se passa na guerra e a manutenção da tranquilidade) : “ ardiam casas, (…) / Violadas, as mulheres eram postas/ Contra os muros caídos / (…) E (…) os jogadores de xadrez jogavam / o seu jogo do xadrez” ; a busca do prazer sem correr riscos : “O que levamos desta vida inútil / tanto vale se é / a glória, a fama (…) / como se fosse apenas / a memória de um jogo bem jogado”; e o fardo pesado da efemeridade da vida : “E a vida passa e dói porque o conhece”.
Apesar das condições adversas à tranquilidade os jogadores de xadrez mantêm-se calmos e indiferentes aos apelos. Não reagem aos impulsos instintivos mantendo uma posição firme, disciplinada. Esta é a filosofia que nos é apresentada como ideal, devendo pois ser seguida. Daqui o tom moralista do poema. Os jogadores de xadrez servem-nos como exemplo.
Foi devido a todas estas características e à própria “ história” em si que é este o texto de que mais gosto de Ricardo Reis. Apesar de ser num estilo clássico e de apresentar, como todos os outros, as características inerentes a poética do heterónimo, é mais directo e causa uma maior sensação no leitor (sensacionismo). A imagem desta indiferença e a calma ilusória nestas circunstâncias extremas podia ser retratada num excêntrico quadro de Salvador Dali. Fazendo um pequeno à parte e fugindo à ideologia do poema repare-se que os jogadores de xadrez podiam ser substituídos por alguns chefes políticos…

O meu inócuo poema

O que em mim vês, Cloe, não te
Traz a felicidade. Olha o rio,
Sente a breve brisa calma
E absorve a sua liberdade.

Torna-te vento, indiferente ao sítio,
Ao mundo, a todos, e
Aprecia cada rosa que desfolhas,
Cada cortina que estremeces.
A certeza é uma só.
O que hoje é presente, amanhã
Será passado. Já o amanhã
Pode não vir a ser o hoje.

Sigamos os Deuses e mantenhamo-nos
Mornos ao calor do Deserto e secos
Durante uma chuva de Abril.
E o rio vai passando…

Vive tranquilamente, calmamente,
Ilusoriamente. O Fatum
Que a ambos coage ditará a nossa
Sentença e definirá a Hora Final.

E o rio vai passando…

Redacção última

Nestas últimas palavras, quero apenas dizer que a elaboração deste trabalho foi muito gratificante, pois além de permitir um alargamento no conhecimento do heterónimo, fez também com que adquirisse mais competências ao nível da informática. Pude usar alguns conhecimentos anteriores, e com a ajuda de alguns colegas pude aprender mais um pouco.
Porém há um pequeno senão. Nem todos possuímos o mesmo “à vontade” com estas tecnologias. De certo que alguns terão tido mais dificuldades que outros, o que se irá reflectir no trabalho em si. Espero que a professora tenha isso em conta e valorize os que se esmeraram. Sem mais nada a dizer…